NA HORA DO BDMINTON
O Badminton é uma modalidade de cariz popular que no
futuro terá grande implantação entre nós
-Afirma FERNANDO GOUVEIA , Coordenador da DGD para o
Distrito de Aveiro
Entrevista de Carlos Sárria
A maioria das modalidades desportivas praticadas neste
rincão à beira-mar plantado não aglutina o interesse do grande público, pois o
nosso público desportivo, mui “sui genéris” possivelmente por notórias
deficiências de uma correcta e sã formação sócio desportiva de base, apenas se
enfeitiça por um número restrito e por outro lado, ostensivamente da preferência
a ser espectador e não praticante.
No número maioritário das modalidades-enteadas nos gostos
genéricos, deparamos com o Badminton que até tem nome estrangeiro a fazer
espécie, não mete bola e obriga os maduros a entreterem-se, com duas raquetas a “enxotarem” o pássaro, com penas e tudo, objecto
primordial do jogo e cuja configuração lhe dá esse retrato.
Precisamente vamos falar hoje de Badminton, numa linha
desde sempre seguida pelo nosso jornal, aberto a todas as modalidades.
Quem é quem ou um ecléctico desportista
A oportunidade surgiu recentemente. Espinho uma terra
virada para o ecletismo desportivo, onde o Badminton já se jogou e se tem,
embora a nível particular e sem a regularidade requerida (infelizmente e dizemo-lo
com mágoa de praticante) foi palco de um torneio a nível nacional. Logo aí
ficou aprazada a conversa com um elemento responsável da modalidade - Fernando
Gouveia - desportista credenciado, a quem o nosso prezado camarada João
Sarabando, em 1964 nas colunas deste jornal, quando da sua partida para Angola,
dado os maiores elogios.
- Fui desde sempre um desportista praticante e apesar de
fazer 30 anos continuo, e espero relativamente ao Badminton andar por cá mais
quatro, pois pratico esta modalidade, desde os 10 anos de idade.
Sou natural de Aveiro, tendo estado 7 anos em Angola. Pratiquei
também, Andebol, Atletismo, Basquetebol, Ginástica, Ténis de Mesa e Voleibol.
Sou professor na Escola Secundária de Carvalhos / Gaia e
na actualidade, no plano desportivo estou como Coordenador de Badminton na Delegação
Regional de Aveiro da DGD (Direcção Geral dos Desportos). Actuo junto dos Núcleos
para lhes prestar apoio técnico e também aos seus “animadores”.
O Badminton (modalidade universal) em Portugal desde 1950
Apesar desse desconhecimento do público pela modalidade
como já aludimos, o Badminton não é na verdade, uma modalidade recém
introduzida cá ou de nova vaga, como poderá parecer. Isso mesmo nos explicou o
nosso entrevistado:
- O Badminton foi introduzido entre nós em 1050, pelo sr.
Henrique Pinto, sócio gerente da Livraria Portugal. Em 1954 seria criada a Federação
e a partir daí a modalidade teve o seu desenvolvimento com condicionalismo, porque
não tinha apoio financeiro, pois recebia apenas 25 contos anuais para promover,
a sua expansão. Daí, a falta de adesão ao Badminton, que erradamente até
parecia não existir e ser de facto uma modalidade de elites.
Nada mais errado, ela é vincadamente popular a nível
universal, como por exemplo na Suécia que tem enorme implantação, até como
modalidade para ocupação utilíssima dos tempos livres, podendo-se dizer que a
maior parte dos c cidadãos tem a sua raqueta e semanalmente, sobretudo nos fins-de-semana
lhe dedicam grande interesse. De resto na Alemanha, Dinamarca, Ingilaterra,
mesmo nos Estados Unidos, Canadá e nos países asiáticos, o Badminton é popularíssimo.
Grande impulso entre nós neste momento
Ora segundo parece a modalidade, está por assim dizer
numa fase de arranque decisivo no nosso país e na zona aveirense, onde Fernando
Gouveia predomina e expande o seu entusiasmo para promover o “seu” Badminton.
Dessa promoção falou-nos nestes termos:
- Se antigamente havia pouco dinheiro, para a expansão da
modalidade hoje numa óptica pessoal e com toda a honestidade, parece-me existir
demais. A Federação Portuguesa de Badminton recebe 1.000 contos, mas por ora não
temos estruturas nem possibilidades de processar um trabalho que justifique
aquela verba.Talvez dentro em breve.
Há 1000 praticantes federados, desde infantis a veteranos
enquanto a nível da D.G.D. estamos a fazer a penetração da modalidade em todo o
país. Propriamente no meu Distrito, o Badminton já entrou em 36 locais, o que é
realmente muito bom. Existem Núcleos e recentemente formaram-se mais 12, pelo
que os convívios sucedem-se, em bom ritmo de regularidade, pelo que o nosso
interesse incide natural e logicamente, no fomento da modalidade, com crianças
dos 8 aos 12 anos, mas isso não quer dizer que não estejamos a lançar gente
adulta, realizando Torneios para não
federados.
Aliás, enquanto o nosso interesse, junto das camadas
jovens escolares, a Comissão Delegada do Norte, apêndice da FPB cobrirá mais a
parte relativa aos clubes, embora se procure activar um trabalho de perfeita
coligação entre a DGD e a FPB para render amplos frutos e evitar uma negativa e
desaconselhável desincronização.
Modalidade viril e ao alcance da bolsa
Por vezes cria-se a ideia de que esta modalidade pelo
facto a benesse do grande público é “para senhoras” ou pouco consentânea com um
retrógrado de virilidade do “homem de barba dura”. Em relação ao Badminton
(somos testemunha prática).
Isso é um erro, mas deixamos ao nosso entrevistado a explicação, como a
da ideia de que a modalidade não é proibitiva, sob o aspecto económico, para as
bolsas da grande maioria:
- É um erro tremendo essa de pensar que o Badminton, lá
por se jogar com “peninhas voadoras” é um desporto macio e efeminado. Ao invés
é bastante violento, exigindo grande desgaste físico, constante movimentação,
exigindo grande capacidade atlética para suportar, o esforço, o desgaste que
ela exige das suas faculdades. Outro erro é o de se pensar que o Badminton é
para gente rica. Uma raqueta custa 120/140 escudos e o volante cerca de 16
escudos, portanto nada mais sintomático, para demonstrar que a modalidade está
perfeitamente ao alcance de todas as bolsas. Há ideias erradas a ultrapassar e
a desmitificar de molde a não travar a extensão de uma modalidade interessante,
salutar e popular.
Faltam técnicos recintos livres e horas
O problema tripartido não é só referente á modalidade
hoje aqui aludida, como sabemos. Trata-se efectivamente de uma questão
generalizada e muitos outros desportos praticados entre nós mas na emergência
queríamos ouvir uma opinião particularizada sobre o Badminton e Fernando Gouveia
disse:
- Mentir-se-ia se disséssemos que temos treinadores em
número suficiente. Nem de longe!
Valemo-nos de antigos praticantes, dos apaixonados da
modalidade, de desportistas e criámos os animadores que não sendo apoiados da
melhor maneira e reciclados na altura devida, no futuro hão-de surgir a partir
daí e por outras vias, os técnicos precisos, pois a modalidade exige-os. O Badminton
necessita por exemplo, de preparação física, fundamental no início de cada
época para dar ao praticante "endurance", para aguentar o desgaste grande que a
modalidade exige. Valemo-nos da preparação igual ao atletismo, que visa criar
estofo físico e elasticidade de movimentação, bastante idênticas para
elaborarmos esquemas que são postos em prática, junto dos praticantes.
Na questão de falta de horas e recintos, indubitavelmente
que a problemática existe e cria condicionalismos, como para exemplificar, em
Aveiro onde o Galitos e os praticantes da Universidade lutam com falta de
recintos para se prepararem. Claro, sendo uma modalidade estritamente de salão,
só poderá praticar-se ao ar livre em jeito de ocupação de tempos livres,
porquanto o vento, mesmo a aragem mais forte prejudica a devolução do “volante”
e tecnicamente, por isso não permite a sua prática oficial fora dos recintos
fechados.
Técnicos, horas e recintos, faltas comuns, são questões
que se terão necessariamente que ultrapassar, a bem do Badminton.
De uma jornada de sensibilização ás queixas quanto á Comunicação Social
Espinho foi recentemente palco de um Torneio de nível nacional
da modalidade e pela primeira vez. O facto poderá ter admirado, mas
necessariamente deve ter havido razões, que melhor do que ninguém, o nosso
interlocutor poderá explicar. Isso e também um certo desencanto que deixou
transparecer, no tocante aos órgãos da comunicação. Eis as suas opiniões:
- Viemos a Espinho, cidade que sabemos declarada e positivamente virada para o
desporto, para uma jornada de sensibilização do meio e divulgação da modalidade.
Também o fizemos no sentido de premiar os praticantes, não os fazendo jogar
sempre nos mesmos locais, invariavelmente os grandes centros urbanos de forma a
terem contactos diferentes e sempre úteis. É evidente que o público ainda não
adere ao Badminton, mas o interesse é sobretudo de cativar novos praticantes,
já que a modalidade precisa muito mais deles do que gente nas bancadas. De
resto em Espinho tivemos a satisfação de encontrar muitos jovens, não só a
pedirem para jogar demonstrando aptidões. Veja o público, como os Órgãos da
Comunicação Social estão na maioria esmagadora virados para modalidades, onde
haja bola, golos e “Eusébios”. Surpreende-me que a imprensa escrita, falada e
pela imagem, não cubra esta nossa modalidade, visto que de uma informação
correcta e regular ela teria muito a beneficiar no aspecto de divulgação e
promoção. Quantos torneios efectuamos esta época sem o mínimo apontamento?
E torneios de nível nacional?
Em Leiria tivemos, os Campeonatos Nacionais de 2ªs Categorias,
com 117 participantes. Quem falou neles? Por exemplo a televisão transmitiu, os
Campeonatos Internacionais de Portugal, os quais como esclarecimento técnico e espectáculo foram extraordinários e no dia imediato
muitos jovens, meus alunos nos Carvalhos, como outros agora iniciados na
modalidade me fizeram mil perguntas sobre Badminton, entusiasmados e inclinados
a praticá-lo.
Quero aqui, aproveitar para consignar um agradecimento ao
seu jornal pela cobertura dada aos Campeonatos
Nacionais de Equipas/2ªs Categorias realizado em Espinho, como esta
oportunidade que me permite falar do Badminton e de aspectos que interessa levar ao grande
público desportivo,
Grande fé no futuro da modalidade, um elogio e uma
critica
Quase seria desnecessário interromper o nosso
entrevistado sobre as suas esperanças quanto ao futuro do Badminton , entre nós
, de tal maneira ele deixa transparecer o seu entusiasmo pela modalidade. Mas
demos-lhe o mote e além dessa resposta obtivemos mais algumas que ficam a
encerrar esta entrevista:
- Acredito que o Badminton vencerá no meio desportivo
nacional e tornar-se-á um desporto eminentemente popular. Há muito a fazer e é
evidente tornar-se fundamental, uma outra educação desportiva de base, outra
mentalidade para que a implantação se processe como desejamos.
Tudo isto irá por diante, pois também se está a
transmudar a forma de encararmos e aceitarmos o desporto no nosso País.
Saliento para já de quanto já lhe disse
e para se ver como estou crente,
na implantação do badminton, que em Aveiro temos, o Galitos, a
Universidade e o Clube de Albergaria a pratica-lo e em breve teremos mais
quatro clubes. Isto é muito bom. Aproveito para tecer, por ser justo o maior elogio
ao trabalho de promoção da modalidade, processado pela professora Albertina
Chaves Martins, pois além do mais foi a introdutora do Badminton, a nível
escolar no Distrito e através dessa sensibilização sofreu grande impulso. É
credora da gratidão de todos que gostam da modalidade.
UM AMPLO PROGRAMA DE ACTIVIDADES
O professor Fernando Gouveia, extra-entrevista fez
questão de nos referir em linhas gerais todo o progrsma de divulgação da
modalidade, particularmente, no Distrito de Aveiro e ainda na Zona Norte. Eis o
que nos disse:
- No último sábado em Aveiro fizemos um convívio para
crianças de 14 Núcleos distritais e
próximo fim de semana em Pardelhas / Murtosa vamos realizar um torneio
com crianças do Galitos, Clube de Albergaria, do Núcleo de Badminton de Pardelhas.
No dia 19 do corrente, em Espinho será palco das eliminatórias do Torneio Aberto,
destinado a atletas, não federados e no dia imediato, em Aveiro teremos as
finais. No dia 26 teremos o Torneio “1ª Raquetada”, para crianças dos 8 aos 12
anos, envolvendo 14 Núcleos e 80 miúdos e foi disputada em Águeda.
Prosseguiu o nosso interlocutor:
- Haverá depois uma actividade de férias, a realizar nos
pavilhões de localidades balneares, como Espinho, Esmoriz, Torreira, Barra etc.
para promoção do Badminton, para jovens em período de férias e portanto com
tempos livres aproveitando de forma sádia, esperando-se grande adesão e
notáveis resultados. Em Novembro haverá um torneio só para “animadores”
destinado a actualizarem sobretudo conhecimentos e depois teremos um Curso Técnico,
de formação através do qual se garantirão pessoas mais habilitadas, para
ensinar a modalidade no futuro. É um curso mais profundo, pois, os anteriores
foram só para darem luzes aos animadores aquém de resto se vão ampliando
conhecimentos para na devida altura estarem aptos a corresponderem.
Finalizando diria:
- Acabaremos a nossa actividade deste ano em 11 de Dezembro,
com torneios por várias localidades destinadas a crianças dos 8 aos 12 anos,
portanto ´é nessas idades que mais interessa promover a modalidade visto aí
estarmos a lançar as sementes para o seu verdadeiro futuro.
- Publicado por: Jornal “Norte Desportivo”
- Em: 10 de Junho de 1976
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