sábado, 23 de março de 2013


NA HORA DO BDMINTON
O Badminton é uma modalidade de cariz popular que no futuro terá grande implantação entre nós

-Afirma FERNANDO GOUVEIA , Coordenador da DGD para o Distrito de Aveiro

Entrevista de Carlos Sárria

A maioria das modalidades desportivas praticadas neste rincão à beira-mar plantado não aglutina o interesse do grande público, pois o nosso público desportivo, mui “sui genéris” possivelmente por notórias deficiências de uma correcta e sã formação sócio desportiva de base, apenas se enfeitiça por um número restrito e por outro lado, ostensivamente da preferência a ser espectador e não praticante.
No número maioritário das modalidades-enteadas nos gostos genéricos, deparamos com o Badminton que até tem nome estrangeiro a fazer espécie, não mete bola e obriga os maduros a entreterem-se, com duas raquetas a “enxotarem” o pássaro, com penas e tudo, objecto primordial do jogo e cuja configuração lhe dá esse retrato.
Precisamente vamos falar hoje de Badminton, numa linha desde sempre seguida pelo nosso jornal, aberto a todas as modalidades.
Quem é quem ou um ecléctico desportista
A oportunidade surgiu recentemente. Espinho uma terra virada para o ecletismo desportivo, onde o Badminton já se jogou e se tem, embora a nível particular e sem a regularidade requerida (infelizmente e dizemo-lo com mágoa de praticante) foi palco de um torneio a nível nacional. Logo aí ficou aprazada a conversa com um elemento responsável da modalidade - Fernando Gouveia - desportista credenciado, a quem o nosso prezado camarada João Sarabando, em 1964 nas colunas deste jornal, quando da sua partida para Angola, dado os maiores elogios.
- Fui desde sempre um desportista praticante e apesar de fazer 30 anos continuo, e espero relativamente ao Badminton andar por cá mais quatro, pois pratico esta modalidade, desde os 10 anos de idade.
Sou natural de Aveiro, tendo estado 7 anos em Angola. Pratiquei também, Andebol, Atletismo, Basquetebol, Ginástica, Ténis de Mesa e Voleibol.
Sou professor na Escola Secundária de Carvalhos / Gaia e na actualidade, no plano desportivo estou como Coordenador de Badminton na Delegação Regional de Aveiro da DGD (Direcção Geral dos Desportos). Actuo junto dos Núcleos para lhes prestar apoio técnico e também aos seus “animadores”.
O Badminton (modalidade universal) em Portugal desde 1950
Apesar desse desconhecimento do público pela modalidade como já aludimos, o Badminton não é na verdade, uma modalidade recém introduzida cá ou de nova vaga, como poderá parecer. Isso mesmo nos explicou o nosso entrevistado:
- O Badminton foi introduzido entre nós em 1050, pelo sr. Henrique Pinto, sócio gerente da Livraria Portugal. Em 1954 seria criada a Federação e a partir daí a modalidade teve o seu desenvolvimento com condicionalismo, porque não tinha apoio financeiro, pois recebia apenas 25 contos anuais para promover, a sua expansão. Daí, a falta de adesão ao Badminton, que erradamente até parecia não existir e ser de facto uma modalidade de elites.
Nada mais errado, ela é vincadamente popular a nível universal, como por exemplo na Suécia que tem enorme implantação, até como modalidade para ocupação utilíssima dos tempos livres, podendo-se dizer que a maior parte dos c cidadãos tem a sua raqueta e semanalmente, sobretudo nos fins-de-semana lhe dedicam grande interesse. De resto na Alemanha, Dinamarca, Ingilaterra, mesmo nos Estados Unidos, Canadá e nos países asiáticos, o Badminton é popularíssimo.
Grande impulso entre nós neste momento 
Ora segundo parece a modalidade, está por assim dizer numa fase de arranque decisivo no nosso país e na zona aveirense, onde Fernando Gouveia predomina e expande o seu entusiasmo para promover o “seu” Badminton. Dessa promoção falou-nos nestes termos:
- Se antigamente havia pouco dinheiro, para a expansão da modalidade hoje numa óptica pessoal e com toda a honestidade, parece-me existir demais. A Federação Portuguesa de Badminton recebe 1.000 contos, mas por ora não temos estruturas nem possibilidades de processar um trabalho que justifique aquela verba.Talvez dentro em breve.
Há 1000 praticantes federados, desde infantis a veteranos enquanto a nível da D.G.D. estamos a fazer a penetração da modalidade em todo o país. Propriamente no meu Distrito, o Badminton já entrou em 36 locais, o que é realmente muito bom. Existem Núcleos e recentemente formaram-se mais 12, pelo que os convívios sucedem-se, em bom ritmo de regularidade, pelo que o nosso interesse incide natural e logicamente, no fomento da modalidade, com crianças dos 8 aos 12 anos, mas isso não quer dizer que não estejamos a lançar gente adulta,  realizando Torneios para não federados.
Aliás, enquanto o nosso interesse, junto das camadas jovens escolares, a Comissão Delegada do Norte, apêndice da FPB cobrirá mais a parte relativa aos clubes, embora se procure activar um trabalho de perfeita coligação entre a DGD e a FPB para render amplos frutos e evitar uma negativa e desaconselhável desincronização.
Modalidade viril e ao alcance da bolsa
Por vezes cria-se a ideia de que esta modalidade pelo facto a benesse do grande público é “para senhoras” ou pouco consentânea com um retrógrado de virilidade do “homem de barba dura”. Em relação ao Badminton (somos testemunha prática). Isso é um erro, mas deixamos ao nosso entrevistado a explicação, como a da ideia de que a modalidade não é proibitiva, sob o aspecto económico, para as bolsas da grande maioria:
- É um erro tremendo essa de pensar que o Badminton, lá por se jogar com “peninhas voadoras” é um desporto macio e efeminado. Ao invés é bastante violento, exigindo grande desgaste físico, constante movimentação, exigindo grande capacidade atlética para suportar, o esforço, o desgaste que ela exige das suas faculdades. Outro erro é o de se pensar que o Badminton é para gente rica. Uma raqueta custa 120/140 escudos e o volante cerca de 16 escudos, portanto nada mais sintomático, para demonstrar que a modalidade está perfeitamente ao alcance de todas as bolsas. Há ideias erradas a ultrapassar e a desmitificar de molde a não travar a extensão de uma modalidade interessante, salutar e popular.
Faltam técnicos recintos livres e horas 
O problema tripartido não é só referente á modalidade hoje aqui aludida, como sabemos. Trata-se efectivamente de uma questão generalizada e muitos outros desportos praticados entre nós mas na emergência queríamos ouvir uma opinião particularizada sobre o Badminton e Fernando Gouveia disse:
- Mentir-se-ia se disséssemos que temos treinadores em número suficiente. Nem de longe!
Valemo-nos de antigos praticantes, dos apaixonados da modalidade, de desportistas e criámos os animadores que não sendo apoiados da melhor maneira e reciclados na altura devida, no futuro hão-de surgir a partir daí e por outras vias, os técnicos precisos, pois a modalidade exige-os. O Badminton necessita por exemplo, de preparação física, fundamental no início de cada época para dar ao praticante "endurance", para aguentar o desgaste grande que a modalidade exige. Valemo-nos da preparação igual ao atletismo, que visa criar estofo físico e elasticidade de movimentação, bastante idênticas para elaborarmos esquemas que são postos em prática, junto dos praticantes.
Na questão de falta de horas e recintos, indubitavelmente que a problemática existe e cria condicionalismos, como para exemplificar, em Aveiro onde o Galitos e os praticantes da Universidade lutam com falta de recintos para se prepararem. Claro, sendo uma modalidade estritamente de salão, só poderá praticar-se ao ar livre em jeito de ocupação de tempos livres, porquanto o vento, mesmo a aragem mais forte prejudica a devolução do “volante” e tecnicamente, por isso não permite a sua prática oficial fora dos recintos fechados.
Técnicos, horas e recintos, faltas comuns, são questões que se terão necessariamente que ultrapassar, a bem do Badminton.
De uma jornada de sensibilização ás queixas quanto á Comunicação Social
Espinho foi recentemente palco de um Torneio de nível nacional da modalidade e pela primeira vez. O facto poderá ter admirado, mas necessariamente deve ter havido razões, que melhor do que ninguém, o nosso interlocutor poderá explicar. Isso e também um certo desencanto que deixou transparecer, no tocante aos órgãos da comunicação. Eis as suas opiniões:
- Viemos a Espinho, cidade que sabemos  declarada e positivamente virada para o desporto, para uma jornada de sensibilização do meio e divulgação da modalidade. Também o fizemos no sentido de premiar os praticantes, não os fazendo jogar sempre nos mesmos locais, invariavelmente os grandes centros urbanos de forma a terem contactos diferentes e sempre úteis. É evidente que o público ainda não adere ao Badminton, mas o interesse é sobretudo de cativar novos praticantes, já que a modalidade precisa muito mais deles do que gente nas bancadas. De resto em Espinho tivemos a satisfação de encontrar muitos jovens, não só a pedirem para jogar demonstrando aptidões. Veja o público, como os Órgãos da Comunicação Social estão na maioria esmagadora virados para modalidades, onde haja bola, golos e “Eusébios”. Surpreende-me que a imprensa escrita, falada e pela imagem, não cubra esta nossa modalidade, visto que de uma informação correcta e regular ela teria muito a beneficiar no aspecto de divulgação e promoção. Quantos torneios efectuamos esta época sem o mínimo apontamento?
E torneios de nível nacional?
Em Leiria tivemos, os Campeonatos Nacionais de 2ªs Categorias, com 117 participantes. Quem falou neles? Por exemplo a televisão transmitiu, os Campeonatos Internacionais de Portugal, os quais como esclarecimento técnico  e espectáculo foram extraordinários e no dia imediato muitos jovens, meus alunos nos Carvalhos, como outros agora iniciados na modalidade me fizeram mil perguntas sobre Badminton, entusiasmados e inclinados a praticá-lo.
Quero aqui, aproveitar para consignar um agradecimento ao seu jornal  pela cobertura dada aos Campeonatos Nacionais de Equipas/2ªs Categorias realizado em Espinho, como esta oportunidade que me permite falar do Badminton e de aspectos que interessa levar ao grande público desportivo,
Grande fé no futuro da modalidade, um elogio e uma critica
Quase seria desnecessário interromper o nosso entrevistado sobre as suas esperanças quanto ao futuro do Badminton , entre nós , de tal maneira ele deixa transparecer o seu entusiasmo pela modalidade. Mas demos-lhe o mote e além dessa resposta obtivemos mais algumas que ficam a encerrar esta entrevista:
- Acredito que o Badminton vencerá no meio desportivo nacional e tornar-se-á um desporto eminentemente popular. Há muito a fazer e é evidente tornar-se fundamental, uma outra educação desportiva de base, outra mentalidade para que a implantação se processe como desejamos.
Tudo isto irá por diante, pois também se está a transmudar a forma de encararmos e aceitarmos o desporto no nosso País. Saliento para já de quanto já lhe disse  e para se ver como estou crente,  na implantação do badminton, que em Aveiro temos, o Galitos, a Universidade e o Clube de Albergaria a pratica-lo e em breve teremos mais quatro clubes. Isto é muito bom. Aproveito para tecer, por ser justo o maior elogio ao trabalho de promoção da modalidade, processado pela professora Albertina Chaves Martins, pois além do mais foi a introdutora do Badminton, a nível escolar no Distrito e através dessa sensibilização sofreu grande impulso. É credora da gratidão de todos que gostam da modalidade.

UM AMPLO PROGRAMA DE ACTIVIDADES
O professor Fernando Gouveia, extra-entrevista fez questão de nos referir em linhas gerais todo o progrsma de divulgação da modalidade, particularmente, no Distrito de Aveiro e ainda na Zona Norte. Eis o que nos disse:
- No último sábado em Aveiro fizemos um convívio para crianças de 14 Núcleos distritais e  próximo fim de semana em Pardelhas / Murtosa vamos realizar um torneio com crianças do Galitos, Clube de Albergaria, do Núcleo de Badminton de Pardelhas. No dia 19 do corrente, em Espinho será palco das eliminatórias do Torneio Aberto, destinado a atletas, não federados e no dia imediato, em Aveiro teremos as finais. No dia 26 teremos o Torneio “1ª Raquetada”, para crianças dos 8 aos 12 anos, envolvendo 14 Núcleos e 80 miúdos e foi disputada em Águeda.
Prosseguiu o nosso interlocutor:
- Haverá depois uma actividade de férias, a realizar nos pavilhões de localidades balneares, como Espinho, Esmoriz, Torreira, Barra etc. para promoção do Badminton, para jovens em período de férias e portanto com tempos livres aproveitando de forma sádia, esperando-se grande adesão e notáveis resultados. Em Novembro haverá um torneio só para “animadores” destinado a actualizarem sobretudo conhecimentos e depois teremos um Curso Técnico, de formação através do qual se garantirão pessoas mais habilitadas, para ensinar a modalidade no futuro. É um curso mais profundo, pois, os anteriores foram só para darem luzes aos animadores aquém de resto se vão ampliando conhecimentos para na devida altura estarem aptos a corresponderem.
Finalizando diria:
- Acabaremos a nossa actividade deste ano em 11 de Dezembro, com torneios por várias localidades destinadas a crianças dos 8 aos 12 anos, portanto ´é nessas idades que mais interessa promover a modalidade visto aí estarmos a lançar as sementes para o seu verdadeiro futuro.

- Publicado por: Jornal “Norte Desportivo”
- Em: 10 de Junho de 1976  

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